31/03/2015 às 11:08:50

Luto Na Morte de Animais de Estimação



Considerados por muitos como membros da família, os animais quando morrem deixam saudades, tristeza, ansiedade e até depressão em adultos e crianças.

Possuir animais de estimação é muito comum entre os humanos, que dedicam muita afeição e dinheiro a eles. Vários exemplos, como oferecer recompensas quando eles são perdidos, pagar por cuidados médicos, comprar-lhe presentes, alimentá-los e até mesmo disputar sua guarda judicialmente mostram a importância do apego emocional dos donos com seus animais de estimação.

Há poucos estudos sobre a relação humanos e animais de estimação em termos de apego, em conceito elaborado por Bowlby e usualmente aplicado para relações próximas entre membros da mesma espécie, incluindo humanos. O apego remete do vínculo com as pessoas e às características das interações sociais vivenciadas entre elas

Pesquisas da década de 90 revelam alto nível de apego entre donos e seus cachorros. Num estudo específico, quase a metade definia seu cachorro como um membro da família, 67% carregava uma fotografia dele em sua carteira, 73% os deixava dormirem em sua cama e 40% comemorava o aniversário do cachorro. As mulheres apresentaram um apego mais forte com seus animais do que os homens.

Estudos sobre as reações à perda de um animal de estimação mostram como é forte o apego desenvolvido. Usando o modelo da teoria de apego, um outro acadêmico – Parker – afirmou que o pesar de perder um animal de estimação iguala-se a dor de perder uma pessoa amada. O processo de luto envolve angústia e pensamentos e sentimentos que acompanham o lento processo mental de se despedir de uma relação estabelecida. Evidências sistemáticas indicam que há claros paralelos entre as variadas reações que as pessoas apresentam seguidamente à perda de um animal de estimação àquelas sentidas por perda de um relacionamento entre humanos e mais recentemente, mas investigações específicas de luto seguido à perda de um animal de estimação têm sido feitas.

O estudo numa população de aproximadamente 1.000 donos de animais de estimação aflitos, nos Estados Unidos, encontrou que o luto foi breve, porém intenso. Tristeza ainda era aparente em metade da amostra um mês após a perda, e choro e culpa em aproximadamente 25%.

Pesquisa semelhante, feita no Reino Unido revelou que 74% voltava seus pensamentos para a perda do animal de estimação, e 60% que se sentiram atraídos por animais que lembravam o animal perdido. Contudo, comparado com o que podemos esperar no caso de aflição humana, havia uma proporção menor de pessoas que se sentiram depressivas, ansiosas ou nervosas como um resultado de perda.

Apenas o grupo de meia idade se mostrou menos perturbado com a morte de um animal, comparado a um ente querido.

As evidências, de várias fontes, apontam que o apego com animais de estimação pode ser intenso. Quebrar esse laço pode, em vários casos, induzir a uma reação de luto de severidade comparada à perda de uma relação humana próxima. Apesar do luto seguido à perda de um animal de estimação ser comumente severo, ele não é largamente conhecido em nossa sociedade.

Os estudiosos o classificam de “luto não-autorizado”, entendido como o luto que uma pessoa vive quando tem uma perda que não pode ser abertamente reconhecida, chorada publicamente, ou socialmente apoiada.

Quando a perda está de acordo com as normas sociais, o luto individual é suportado pela rede social, o que facilita tanto o processo de luto quanto a coesão social. Quando isso não acontece, e a sociedade não reconhece e nem legitima o luto, as reações de estresse podem ser intensificadas, e os problemas relacionados ao luto podem ser exacerbados. Em casos de animais de estimação, normalmente frases como “Era só um cachorro...” mostram esse não reconhecimento. A morte do animal é tratada como um acontecimento trivial e de pouca importância.

A mesma corrente dia que além do luto social não autorizado, existe o luto intrapsíquico não-autorizado. Nós internalizamos crenças, valores e expectativas sociais. Está implícito no comentário “Era só um cachorro...” que os animais não são dignos de luto e a noção de que há algo inerentemente errado com alguém que entra em processo de luto após a morte de um animal. Assim, quando um animal de estimação morre, muitos donos estão totalmente despreparados para a intensidade de seu luto, e ficam embaraçados e com vergonha dele. A sociedade tende a dar mais suporte à criança que perde um animal de estimação do que a um adulto.

E AS CRIANÇAS?

Os animais de estimação são importantes para as crianças por muitas razões: eles servem como amigos, companheiros de brincadeiras, e fonte de amor incondicional. Além disso, os animais de estimação ajudam a ensinar às crianças sobre as responsabilidades que estão envolvidas em cuidar de uma outra criatura viva. E também, por causa do ciclo de vida mais curto deles, os animais de estimação podem ensinar às crianças importantes lições sobre perda, morte e luto.

Corr, estudioso do assunto, achou nos livros infantis que pesquisou que a relação entre uma criança e seu animal de estimação é tratada como algo muito importante, e a perda do animal é um evento muito significativo.

Os livros costumam também passar a ideia de que é importante a criança viver a experiência e expressar o luto, e que rituais podem ajudar a comemorar a vida do animal que já foi perdido. Outras questões comumente tratadas nos livros são o tipo de morte do animal (natural, por eutanásia ou acidental), se é ou não desejável adquirir outro animal logo após a perda de um, e questões envolvendo a reflexão do que é a vida e do que é a morte.

De acordo com as várias linhas psíquicas o luto infantil normalmente inclui consequências imediatas e no longo prazo, tais quais depressão, ansiedade, retraimento social, distúrbios comportamentais e queda no rendimento escolar.

A perda do animal de estimação não é menos importante, porque frequentemente ele é considerado pela criança como membro da família. Muitos autores enfatizam que os pais precisam não considerar a morte do animal de estimação como algo trivial. Os pais devem apreciar o papel que o animal tem na vida da criança e assistir às crianças em variadas formas de expressão de sua dor, seja verbalmente, artisticamente (através de desenhos, por exemplo) ou na escrita. 

Fonte: Revista Diretor Funerário, por Isabella Berteli (blog cientificamente)